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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

HCA- LOCAL: O MOSTEIRO


Igreja Católica constituía o alicerce mais profundo e estável do mundo medieval (séculos V-XV).
Com uma organização própria (leis, bens e tributos), ela dirigia os desígnios dos Homens (ricos e
pobres), uma vez que tinha um papel activo nas suas vidas. O baptismo, o casamento, o enterro, bem como as missas dominicais eram rituais religiosos que marcavam a vida quotidiana e terrena do Homem. Seguir os ensinamentos de Cristo perspectivava uma vida eterna celeste. Seria essa a recompensa pelos sacrifícios terrestres. Este princípio tornava a Igreja uma instituição com forte poder espiritual e cultural.
Os mosteiros multiplicaram-se a partir da experiência de São Bento de Núrsia, que fundou, no século
VI, o Mosteiro de Monte Cassino, na Itália. A regra monástica de São Bento era “ora et labora”- ore e trabalhe. “O ócio é inimigo da alma. Assim, os irmãos devem estar ocupados, em tempos determinados, no trabalho manual e em horas determinadas também, à leitura divina”, afirmava S. Bento.
Nos mosteiros beneditinos de toda a Europa medieval, os monges eram arrancados ao minguado
conforto dos seus colchões de palha e ásperos cobertores pelos sineiros, que os despertavam às 2 horas da madrugada. Momentos depois, dirigiam-se apressadamente, ao longo dos frios corredores de pedra, para o primeiro dos seis serviços diários na enorme igreja (havia uma em cada mosteiro), cujo altar, esplendoroso na sua ornamentação de ouro e prata, resplandecia à luz de centenas de velas. Esperava-os um dia igual a todos os outros, com uma rotina invariável de quatro horas de serviços religiosos, outras quatro de meditação individual e seis de trabalhos braçais nos campos ou nas oficinas. As horas de oração e de trabalho eram intercaladas por períodos de meditação; os monges deitavam-se geralmente pelas 6.30 horas da tarde.
Durante o Verão era-lhes servida apenas uma refeição diária, sem carne; no Inverno, havia uma segunda refeição para os ajudar a resistir ao frio. Era esta a vida segundo a Regra de S. Bento, que prescrevia para os monges e monjas uma vida de pobreza, castidade e obediência, sob a orientação monástica de um abade ou de uma abadessa, cuja palavra era lei.
Nos mosteiros e nas abadias, tudo era partilhado: a oração, as refeições e o trabalho manual,
valorizado e elevado à categoria de oração a serviço de Deus. Os monges trabalhavam nas bibliotecas, nas oficinas e nos campos, onde desenvolveram técnicas avançadas tornando cultiváveis bosques e terrenos baldios, servindo de exemplo aos camponeses. Os monges realizaram também vasta obra de acção social, distribuindo esmolas aos mendigos, alojamento aos peregrinos e abrigo aos camponeses fugidos dos domínios.
Os mosteiros foram também importantes centros de actividade cultural e artística. Nas suas amplas bibliotecas e nos scriptoria, executando traduções, transcrições e cópias de livros e documentos históricos principalmente na execução de manuscritos e iluminuras, conseguiram preservar e transmitir os textos dos autores clássicos da Antiguidade, difundindo os Evangelhos e a cultura latina. Durante a Idade Média, os livros eram vistos como um tesouro, quer pela sua raridade, quer pelos materiais utilizados na sua concepção, como também pela própria mensagem que continham. Eram profusamente decorados com coloridas e muito pedagógicas iluminuras, que ilustravam o texto escrito. O livro, enquanto instrumento doutrinal, de oração, ou de poder (para quem o possuía) estava ao dispor de uma parte ínfima da sociedade.
Paralelamente, o Mosteiro era um ponto de passagem de muitos peregrinos que, num acto de penitência para se punir dos pecados ou para pedir /pagar uma graça percorriam (a pé) longas distâncias por toda a Europa até chegarem a um dos mais importantes centros de peregrinação da Europa medieval – Santiago de Compostela. Era nos Mosteiros que o peregrino ou o conjunto de peregrinos podiam encontrar assistência aos males do corpo e do espírito (banhos, comida, cuidados médicos, assistência a moribundos).
As ordens religiosas que mais se destacaram, fundando abadias e conventos por toda a Europa, foram as de São Bento (Beneditinos), de Cluny (Cluniacenses), de São Bruno (Cartuchos), de Cister (Cistercienses), de São Francisco (Franciscanos) e de São Domingos (Dominicanos).
Por volta do ano 1000, as Regras seguidas praticamente em todos os mosteiros da Europa Ocidental inspiravam-se na dos Beneditinos, tal como muitos dos edifícios se baseavam no "modelo" delineado para o Mosteiro de Saint-Gall, na Suíça, construído em 820 (manual, p. 163).
A Igreja não fechara os olhos às dependências e hierarquias, antes pelo contrário. O Papa era visto como a mais alta individualidade da Igreja, uma vez que representava Cristo na Terra. O clero subdividia-se então em clero regular (abades/abadessas, monges/monjas, que seguiam uma Regra – um conjunto de normas – e viviam em mosteiros/abadias) e clero secular (bispos e padres que dirigiam dioceses e paróquias). Dadas as suas funções relacionadas com o culto religioso, seriam dos poucos que sabiam ler e escrever, como também estavam isentos do pagamento de qualquer tributo. Antes pelo contrário, recebiam a dízima dos camponeses e inúmeros privilégios do Rei, como também variados benefícios materiais, muitos deles deixados em testamento pelos senhores da nobreza que ansiavam, desta forma, alcançar mais rapidamente o Paraíso

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