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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Modernismo : arquitetura e pintura


RUTURA E INOVAÇÃO NAS ARTES E NA LITERATURA
EXPERIÊNCIAS ARTÍSTICAS
Fatores condicionantes:
Descrença nos valores tradicionais/ necessidade de inovar;
Invenção da fotografia que permite retratar a realidade visível com toda a exatidão;
Aparecimento de novos materiais: aço, plástico, cimento.
Desenvolvimento das ciências humanas como a Psicologia (corrente psicanalítica) e a Filosofia   (corrente existencialista).



                                               PINTURA

CORRENTE
     CRONOLOGIA
CARACTERÍSTICAS
ARTISTAS
Ø  ARTE NOVA
       1860 [-1910]
Ø  estilo modernista, livre das imitações históricas;

Ø  essencialmente decorativo;

Ø  emprega curvas e contracurvas, excêntricas e assimétricas, e estilizações florais;

Ø  visível na arquitetura, no desenho de interiores, na joalharia, no desenho em vidro e na ilustração.
Ø  William Morris
Ø  Antoni Gaudí
Ø  Henry Clemens
Ø  Gustav Klimt
Ø  René Lalique.
Ø  FAUVISMO
       1905
Ø  Cores vivas.


Ø  Interpretação livre da Natureza.
Ø  Henri Matisse
Ø  Duby
Ø  CUBISMO
        1905
Ø  Primazia dos volumes.

Ø  Formas reduzidas a volumes geométricos.

Ø  Sobreposição de diferentes ângulos de observação das figuras.
Ø  Pablo Picasso
Ø  Braque
Ø  EXPRESSIONISMO
       1905
Ø  Exploração do mundo interior do homem, exteriorização de emoções (alegria, solidão, medo, etc).

Ø  Violência da emoções expressa em tons vivos.
Ø  Otto Dix
Ø  Edvard Munch
Ø  FUTURISMO
       1909
Ø  Predomínio do dinamismo e do movimento; a beleza da velocidade.

Ø  Tema dominante: a civilização industrial do futuro.
Ø  Marinetrti
Ø  Marcel Duchamp
Ø  Santa-Rita-Pintor
Ø  Almada Negreiros
Ø  ABSTRACIONISMO

       1910
Ø  Linhas e manchas de cor.

Ø  Harmonia sem intenções figurativas.

Ø  Despreocupação com os temas em si.

Ø  Valorização da interpretação livre.

Ø  Procura da comunhão de ideias racionais e menos do prazer estético.
Ø  Kandinsky
Ø  Piet Mondrian
Ø  Amadeo de Souza-Cardoso
Ø  Fernando Lanhas
Ø  Nadir Afonso
Ø  DADAÍSMO
       1916
Ø  Espontaneidade da arte;

Ø  Representações ao acaso, segundo os impulsos pessoais.
Ø  Max Ernst
Ø  Raoul Hausmann
Ø  SURREALISMO
       Anos 20
Ø  Materializações de sonhos absurdos, alucinações, obsessões;

Ø  “ver” para além da realidade através da imaginação.
Ø  Salvador Dali
Ø  René Magritte
Ø  Giorgio de Chirico
Ø  António Pedro
Ø  António Dacosta





https://drive.google.com/file/d/0Bx23YVXU3qVCR1hNTDdXcnNNNlE/edit?usp=sharing

https://docs.google.com/file/d/0Bx23YVXU3qVCcWlZeGZpTFhfODA/edit?usp=sharing&pli=1


 O Modernismo português

 https://docs.google.com/file/d/0Bx23YVXU3qVCZWl2ZndnWUp1cHM/edit?usp=sharing&pli=1

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ficha informativa- Portugal - da 1ª República ao Estado Novo


Veja os vídeos

http://www.youtube.com/watch?v=ndfWzNEKV7E

 http://www.youtube.com/watch?v=A2OpY_dU6I4&list=TLN-rROPUk0TMJtdLR3823ph3XUcyxDSym

 http://www.youtube.com/watch?v=l9WeNN1zenk&list=TLN-rROPUk0TMJtdLR3823ph3XUcyxDSym

 http://www.youtube.com/watch?v=PEkEUS3CFE8&list=TLN-rROPUk0TMJtdLR3823ph3XUcyxDSym



PORTUGAL NO PRIMEIRO PÓS-GUERRA
Nos anos que se seguiram ao fim da 1ª Guerra Mundial, mantinham-se em Portugal as dificuldades económicas e financeiras cujas esperanças de resolução tinham conduzido ao triunfo do republicanismo.
Não só se mantinham como se agravaram ainda mais devido à participação de Portugal na Guerra e à conjuntura de crise internacional subsequente.
Tal como em toda a Europa, estava também criado o ambiente favorável à intensificação da agitação social a que os frágeis governos republicanos não conseguiam pôr cobro. Com a sua credibilidade cada vez mais minada pela inoperância política, prenunciava-se, também em Portugal, a transição da democracia liberal para a ditadura.
1.    AS DIFICULDADES ECONÓMICAS E FINANCEIRAS
a)    A agricultura
Nos inícios do século XX, a economia portuguesa continuava a assentar numa atividade agrícola que não evidenciava grandes desenvolvimentos técnicos. No Norte, mantinha-se o tradicional parcelamento da propriedade que inviabilizava os grandes investimentos e, no Centro e Sul, onde predominava a grande propriedade, a pobreza dos solos não atraía o investimento do débil setor empresarial português que continuava a preferir investir na especulação financeira.
b)    A indústria
No seguimento do surto industrial que marcou a segunda metade do século XIX, podemos falar de uma relativa prosperidade sobretudo nos setores mais virados para as exportações, nos anos que se seguiram à guerra.
Todavia, a produção industrial continuava inviabilizada pela debilidade que caracterizava o setor dos transportes e das comunicações. Os setores rodoviário e ferroviário mantinham-se praticamente no estado em que foram deixados por Fontes Pereira de Melo. Não mais se investiu consistentemente no seu alargamento, nem sequer na sua reparação. O mesmo se passava com o apetrechamento dos grandes portos marítimos de Lisboa e de Leixões, cada vez menos adaptados às novidades da circulação marítima, e com a marinha mercante, incapaz de competir com as grandes frotas estrangeiras que continuavam a dominar o tráfego dos produtos nacionais.
c)     As dificuldades financeiras
À semelhança do que ocorria na Europa, também em Portugal a insuficiência produtiva provocava a prática dos racionamentos e do constante aumento dos preços. Para responder às dificuldades, os governos procediam à emissão de notas de banco cada vez mais desvalorizadas, o que vinha agravar ainda mais a inflação.
Mas as dificuldades financeiras do país eram maiores pela crescente fuga de capitais para o estrangeiro devido à depreciação do escudo e à descrença na força da moeda portuguesa.
Num país assim descapitalizado, os sucessivos governos da 1§ República assistiam impotentes ao agravamento do défice da balança comercial e ao disparar da dívida pública.
2.    A INSTABILIDADE POLÍTICA E SOCIAL
A revolução republicana não trouxe a esperada estabilidade política, nem as reformas empreendidas corresponderam aos anseios das classes que, ardentemente, apoiaram o movimento revolucionário. A desilusão foi imediata e a crise prolongou-se durante 16 anos em que ocorreram 8 eleições para a presidência da República, 9 eleições legislativas e foram nomeados 45 governos.
a) A instabilidade política
Logo a seguir ao triunfo da revolução, vieram ao de cima as divergências no seio do Partido Republicano, motivadas em ambições pessoais de poder. Seguir-se-iam as primeiras grandes cisões internas e o movimento republicano acabaria por se pulverizar em pequenas fações que, uma vez eleitas, transportavam para o Congresso as suas rivalidades, envolvendo-se em ferozes e indisciplinadas, mas inofensivas, lutas políticas.
Ora, a Constituição de 1911 instituía o predomínio do poder legislativo sobre o poder executivo. Por conseguinte, a constante interferência do Congresso na atividade governativa tornava ineficaz a ação dos governos. Com efeito, os repetidos desentendimentos entre os partidos com assento no Congresso inviabilizavam a constituição de maiorias parlamentares e geravam impasses irresolúveis que, muitas vezes por questões secundárias, faziam cair governos e presidentes.
Portanto, numa altura em que a situação económica e financeira que tinha estado na origem da contestação da Monarquia continuava a não dar sinais de resolução e se agravava com o fim da Guerra, os governos republicanos deixavam transparecer uma cada vez maior inoperância na resolução das dificuldades e começavam a ser vistos como a continuação da administração corrupta derrubada em 1910.
Nesta conjuntura, as medidas legislativas não agradavam nem aos setores revolucionários, por as considerarem insuficientes, nem aos setores conservadores, por as considerarem exageradas.
b) A instabilidade social
Conjugando os quadros económico e financeiro com o quadro político, estavam criadas as condições para a afirmação de um quadro social explosivo.
Com efeito, as profundas desvalorizações da moeda e a inflação galopante não acompanhada pela subida dos salários provocam sérias dificuldades nas classes médias titulares de rendimentos fixos. Por seu lado, os operários, além do custo de vida, não suportavam as frequentes situações de desemprego a que estavam violentamente condenados face às dificuldades do setor produtivo.
A agitação social, patente em manifestações e greves, ocorre de forma cada vez mais violenta. E o poder político, cada vez mais fragilizado, revelava-se inoperante face à generalização da desordem.
Face a esta situação, os setores conservadores, onde se destacavam os mais poderosos grupos económicos e as altas patentes militares, ficam apreensivos e receiam que Portugal enverede pela via do socialismo triunfante em 1917, na Rússia. À semelhança do que acontecia na Europa, culpam o regime parlamentar de ser o causador de todos os males da República, aspiram por um governo forte, autoritário que ponha termo à instabilidade política e à agitação social e que defenda melhor os seus interesses de classe.
3.    A FALÊNCIA DA REPÚBLICA
Em 28 de maio de 1926, o país estava cansado de tanta agitação social, de greves e atentados bombistas.
Também não se vislumbrava, na democracia parlamentar, qualquer solução para os problemas económicos e financeiros. Assim, a vontade de um governo que restaurasse a ordem e a tranquilidade e trouxesse, finalmente, ao país o tão desejado e prometido desafogo económico era quase unânime.
Bem aproveitado foi este sentimento pelas forças antidemocráticas e antiparlamentares que, praticamente sem oposição, organizaram, a partir de Braga, um movimento militar e levaram a cabo um golpe de Estado, em consequência do qual foi instituído um regime de ditadura militar.
O novo Governo decreta o fim das liberdades individuais, dissolve o Congresso da República (Parlamento) e extingue todas as instituições de inspiração liberal e democrática.
A 1ª República chegava ao fim e, com ela, a democracia parlamentar.
PORTUGAL: O ESTADO NOVO

Durante os primeiros anos do regime de ditadura, instituído com o golpe militar de 28 de maio de 19261, a crise política acentuou-se com os desentendimentos e divisões surgidos entre os militares politicamente impreparados e o défice financeiro não parou de se agravar. A promessa de regeneração da pátria não dava sinais de se cumprir.
Perante as dificuldades, em abril de 1928, os militares fazem um segundo convite a um distinto professor de Finanças e Economia Política da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar, para superintender na pasta das Finanças, cargo que tinha declinado logo a seguir ao golpe de 1926, por não lhe terem sido concedidos os poderes que considerava necessários para exercer uma boa governação.
Com Salazar no Governo, inicia-se a edificação do Estado Novo.
1. O TRIUNFO DAS FORÇAS CONSERVADORAS
O Estado Novo é a imagem do Estado totalitário português inspirado na ideologia fascista, com particularidades introduzidas por Salazar, que deixou o seu nome na identificação do regime - o salazarismo. É um Estado "novo" porque se opõe ideologicamente ao Estado considerado "velho" da 1§ República.
Com poderes para superintender nos orçamentos de todos os ministérios, Salazar implanta uma política de forte austeridade e controlo de despesas públicas, ao mesmo tempo que aumenta gradualmente os impostos. Passados 15 anos, Salazar conseguia, desta forma, equilibrar o orçamento e eliminar o défice público.
Considerado autor de um verdadeiro milagre, viria a granjear grande prestígio entre os militares que lhe permitiram intervir com autoridade nas grandes decisões políticas do Governo que, cada vez mais, passa a ser a sua imagem.
Naturalmente, em 1932, Salazar é nomeado para a chefia do Governo, para cujas pastas chamou personalidades políticas conservadoras de sua estreita confiança.
2.   A PROGRESSIVA ADOÇÃO DO MODELO FASCISTA ITALIANO
Ao afirmar, no seu discurso de tomada de posse, "sei muito bem o que quero e para onde vou", Salazar dava um claro sinal do seu propósito de instaurar uma nova ordem política que, de forma definitiva, resolvesse os problemas financeiros do país e instaurasse a ordem e a disciplina sociais. Para o conseguir, adota o modelo fascista italiano na edificação das instituições e no imaginário político.
Também em Portugal se confirmava o vigoroso autoritarismo do Estado e o condicionamento das liberdades individuais.
a)    As novas instituições
A ordem política preconizada por Salazar assenta num conjunto de instituições que irão constituir os alicerces (apoios, fundamentos, bases) do novo regime:
-          os estatutos da União Nacional, uma força política oficial criada pelo Governo em 1930, que, na prática, viria a transformar-se no único partido autorizado, um Partido Nacional que congregava "todos os portugueses de boa vontade";
-          o Ato Colonial, aprovado em 1930, um corpo legislativo através do qual Portugal reafirmava a sua missão civilizadora nos territórios ultramarinos e clarificava as relações de dependência das colónias, pondo fim às políticas de descentralização administrativa e à abertura à intervenção estrangeira dos governos democráticos da 1§ República;
-          o Estatuto do Trabalho Nacional, promulgado em 1933, claramente inspirado na Carta do Trabalho italiana, que regulamentava a organização corporativista do setor produtivo nacional;
-          a nova Constituição, conhecida como Constituição de 1933, que põe fim ao regime de transição (a Ditadura Militar) e institucionaliza um novo Estado - o Estado Novo.
b)    A ideologia do Estado Novo
No seu imaginário político, à semelhança de Mussolini, Salazar concebeu um regime:
I.    Autoritário e dirigista - um presidencialismo bicéfalo
Limitado teoricamente pelos princípios da moral e do direito, rejeitou os princípios liberais que constituíam os fundamentos do regime democrático e, por conseguinte, repudiou o sistema parlamentar pluripartidário.
O poder executivo era detido pelo Presidente da República, independente do poder legislativo. Todavia, a verdadeira autoridade era exerci da pelo Governo, na pessoa do seu presidente - o Presidente do Conselho de Ministros. De forma totalitária, superintendia na ação governativa de todos os setores da vida pública; nomeava e exonerava o seu conselho de ministros; referendava os atos do Presidente da República e tinha amplos poderes de legislar. Apenas tinha o dever de submeter as propostas de lei a uma Assembleia Nacional que, todavia, era constituída por deputados identificados com o Governo, provenientes de um único partido - a União Nacional- e cuja função se limitava à discussão das propostas de lei submetidas à sua aprovação.
Tratava-se de um regime fortemente presidencialista, em que o poder executivo, na prática, era detido pelo presidente do Governo que se sobrepunha ao Presidente da República - um presidencialismo bicéfalo.
II.  Personalizado no chefe - o culto da personalidade
O chefe era o intérprete do supremo interesse nacional. Salazar era apresentado pela propaganda do regime como o "Salvador da Pátria", o "Guia da Nação", naturalmente apto para governar. Figura central da governação, interveniente em todos os setores da vida nacional, a sua imagem estava presente em todos os lugares públicos, era venerado pelas multidões e só não era efusivamente aclamado porque era avesso às multidões.

Com efeito, Salazar nunca assumiu o carácter militar dos seus inspiradores ideológicos. Nunca usou farda, como Mussolini e Hitler, e raramente patenteava publicamente força, virilidade ou agressividade. Discrição, austeridade, sobriedade nos comportamentos eram as suas principais características.
III. Conservador - a consagração da tradição e da ruralidade
Radicalmente adverso à ideologia marxista e ao seu carácter urbano e industrial, Salazar consagrou a tradição e a ruralidade como imagem de todas as virtudes. O mundo urbano e industrial era para Salazar um espaço onde imperava a desordem e a indisciplina geradas pela modernidade dos novos tempos e pela luta de classes da sociedade industrial.
A família rural, tradicional e conservadora, devia ser a imagem da sociedade portuguesa. A mulher era reduzida a um papel passivo, submissa ao marido, profundamente feminina, unicamente ocupada com os afazeres domésticos e com a educação dos filhos, enquanto o homem se ocupava do ganha-pão. A mulher a trabalhar fora de casa era a imagem da perdição da família e da perversão social, própria do mundo urbano industrial.
IV.  Nacionalista - a exaltação dos valores nacionais
A união de todos os portugueses no engrandecimento da pátria era uma das grandes preocupações do regime.
Como todas as divisões fragilizavam a Nação, os partidos políticos foram proibidos e todos os portugueses "de boa vontade" se deviam congregar na União Nacional, uma formação criada sem preocupações partidárias, na sua origem, que viria a ser o grande suporte do regime.
Para melhor conseguir esta união nacional de todos os portugueses, o Estado empreendeu uma intensa campanha de exaltação dos valores nacionais, através da consagração dos heróis e do passado glorioso de Portugal e de valorização das produções culturais nacionais. A inculcação destes valores fazia-se numa escola que visava a formação de consciências identificadas com a tradição, obediência, o respeito pela autoridade, o patriotismo e a aversão à modernidade estrangeira.
V.   Corporativo (ou corporativista) - a concórdia na organização económica e social
À semelhança do fascismo italiano e com os mesmos objetivos, o Estado Novo também pretendeu que toda a vida económica e social do país se organizasse em corporações.
As bases do corporativismo português foram lançadas por um conjunto de decretos governamentais, entre os quais se destaca o Estatuto do Trabalho Nacional que estabelecia a organização dos trabalhadores portugueses em sindicatos nacionais e a organização dos patrões em grémios, de acordo com os respetivos ramos de atividade profissional. Grémios e sindicatos entender-se-iam na negociação das matérias laborais, com o Estado na superintendência e intermediação.
Todavia, o corporativismo português apresentava-se algo mais complexo.
No setor económico, além dos sindicatos e dos grémios, havia ainda as Casas do Povo, onde se faziam representar os patrões e trabalhadores rurais, e as Casas dos Pescadores, associações de gentes do mar e seus empresários.
Mas havia ainda as corporações morais, associações de cidadãos para fins de assistência e caridade, e as corporações intelectuais, associações com objetivos científicos, literários e artísticos.
Estas formas de associação básica eram organizadas, num segundo nível, em federações e uniões e daqui eram eleitos representantes para uma Câmara Corporativa, que funcionava como órgão consultivo que emitia pareceres sobre projetos de lei do Governo a apresentar à Assembleia Nacional.
VI.  Repressivo - a liberdade amordaçada
O exercício da autoridade implicou que o regime se rodeasse de um poderoso aparelho repressivo através do qual se subordinavam aos interesses do Estado os direitos e liberdades dos cidadãos, ainda que constitucionalmente reconhecidos.
Através da instituição da Censura Prévia, era exercida uma rigorosa vigilância sobre todas as produções intelectuais escritas ou audiovisuais, que passava pela eliminação de palavras, imagens ou ideias consideradas subversivas para a ideologia do regime. Tratava-se de uma verdadeira ditadura intelectual que levava os autores a procurarem as mais incríveis subtilezas literárias ou audiovisuais, para poderem materializar a sua inteligência.
Uma polícia política, a PVDE - Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (mais tarde a tenebrosa PIDE), apoiada numa estrutura de sinistra delação, perseguia, prendia, torturava e matava quem manifestasse o mínimo sinal de oposição ao poder instituído, no total desrespeito pelos direitos do Homem e mesmo da constitucionalidade do regime, tal era a arbitrariedade e a impunidade com que atuavam os seus agentes.
Além da União Nacional, a superestrutura nacional de enquadramento das massas, existiam, a nível particular, outras instituições e processos de enquadrar as massas e fidelizar a população ao projeto do regime. Embora sem atividade na prática da repressão, foi criada uma milícia armada para defesa do regime e combate ao comunismo - a Legião Portuguesa, organismo onde determinados funcionários públicos deviam estar arregimentados, depois de jurarem estar integrados na ordem social estabelecida pela Constituição de 1933.
Para formação ideológica da juventude, toda a população escolar era obrigatoriamente inscrita na Mocidade Portuguesa, uma organização juvenil criada à imagem das congéneres italiana e alemã. Dotada de caráter paramilitar, os jovens deviam comparecer fardados nas sessões de instrução integrada na formação escolar e nas grandes manifestações públicas do regime, saudando as autoridades presentes de braço estendido.

O controlo dos trabalhadores também não foi descurado. Enquanto a atividade laboral era tutelada pelas corporações, para a organização e ocupação dos tempos livres, segundo os princípios morais do regime, foi criado um organismo do Estado - a FNAT, Federação Nacional para a Alegria no Trabalho, também à imagem das similares instituições italiana e alemã.
Para incutir na vida familiar os valores do Estado Novo, criou-se a Obras das Mães para a Educação Nacional, que visava a formação das futuras mulheres e mães.
3.   UMA ECONOMIA SUBMETIDA AOS IMPERATIVOS POLÍTICOS
O carácter totalitário do Estado também se fez sentir na atividade económica e financeira. Sujeitar toda a produção e gestão da riqueza nacional aos interesses do Estado era um objetivo constitucionalmente definido. Para o efeito, Salazar abandonou por completo o liberalismo económico e adotou um modelo fortemente dirigista. Protecionismo e intervencionismo, tendo em vista a autarcia - autossuficiência do país - e consequente afirmação do nacionalismo económico, foram as principais características da economia do Estado Novo.
a)    A prioridade à estabilidade financeira
Já vimos que Salazar foi convidado para a tutela das finanças públicas com o objetivo de resolver as crónicas dificuldades financeiras do Estado. Também vimos que a afirmação política de Salazar se ficou a dever ao sucesso das suas políticas na consecução do muito ambicionado equilíbrio orçamental.
Efetivamente, ao mesmo tempo que Salazar impunha aos diversos ministérios uma rigorosa política de limitação de despesas, lançava sobre a população um conjunto de impostos, tendo em vista o aumento da receita fiscal.
O "milagre" financeiro conseguido por Salazar também se ficou a dever em muito à conjuntura internacional.
Quando, em 1939, deflagrou a Segunda Guerra Mundial, Salazar preferiu a neutralidade. Pôde, assim, evitar as consequências negativas da participação num conflito bélico, tão visíveis aquando da participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, e aproveitar as necessidades económicas dos países envolvidos para dinamizar alguns setores ligados à exportação, como o volfrâmio, as indústrias de conservas e os têxteis, ligados ao fardamento. As reservas de ouro aumentaram e o escudo português ganhou prestígio no quadro financeiro europeu.
b)    A importância da agricultura
Fortemente ruralista, como já vimos, Salazar via nas atividades agrícolas um dos meios mais poderosos para atingir a pretendida autossuficiência económica. Assim, correspondendo também aos interesses dos grandes agrários, um dos principais sustentáculos sociais do novo regime, Salazar empreendeu um conjunto de medidas de fomento das atividades agrícolas.
O Estado Novo foi o tempo da construção de numerosas infraestruturas hidráulicas tendo em vista facilitar a recuperação e aproveitamento de campos agrícolas; da adoção de políticas de fixação de populações no interior rural; de amplas campanhas de florestação; de dinamização da produção dos bens mais tradicionais na alimentação portuguesa como a batata, o arroz, o vinho, o azeite e as frutas.
De todas as medidas agrícolas, a que mais impacto teve pelos objetivos e resultados foi a dinamização da produção de trigo, visando tornar o país autossuficiente neste setor ainda fundamental da alimentação da população. Foram os tempos da Campanha do Trigo, entre 1929 e 1937, à semelhança da política agrícola adotada por Mussolini, na Itália, com algum sucesso inicial, e por isso transformada numa das bandeiras da propaganda do Estado Novo.
A Campanha do Trigo foi apresentada como a forma mais sublime de dignificação da lavoura nacional, então considerada "a indústria mais nobre e a mais importante de todas as indústrias e o primeiro factor de prosperidade económica da Nação". Envolvida em medidas fortemente protecionistas, esta campanha traduziu-se num grande alargamento da área de cultura do trigo, em demonstrações técnicas do uso de máquinas e de adubos, assistência aos agricultores com garantia de aquisição de toda a produção pelo Estado a preço tabelado, seleção técnica das sementes e organização de parques de material agrícola.
Em torno desta campanha, desenvolviam-se outras manifestações de algum dinamismo industrial, visível no desenvolvimento da indústria das moagens, produção de adubos químicos, maquinaria agrícola e consequente oferta de postos de trabalho.
c)     O condicionamento industrial
No âmbito da indústria, os primeiros anos do regime foram marcados pela persistência dos constrangimentos tradicionais do desenvolvimento do país: deficiente rede de comunicações, processos tecnológicos arcaicos, baixos níveis de produtividade, dependência das importações, falta de iniciativa por parte dos investidores portugueses, manutenção de baixos salários.
I.    Conceito
A juntar a este cenário já de si impeditivo do desenvolvimento da indústria nacional, a década de 30 foi o tempo em que mais se fez sentir a política de condicionamento industrial.
Como se pode depreender do conceito, as iniciativas empresariais deviam enquadrar-se num modelo económico definido e dirigido pelo Estado. Em conformidade, qualquer ação no âmbito industrial, desde a instalação, ampliação, mudança de local, transação, até à modernização tecnológica, sobretudo se envolvessem grandes quantidades de capital, como eram os sectores dos adubos, cimentos, tabacos, fósforos, entre outros, dependiam de autorização do Estado. A liberdade dos agentes económicos era sacrificada ao interesse de um Estado que se afirmava fortemente dirigista e intervencionista.
II.  Objetivos

Com esta política, Salazar tinha em vista evitar a concorrência estrangeira pelo controlo da indústria por nacionais e regular a atividade produtiva. Desdobravam-se estes objetivos, por um lado, na busca de equilíbrio entre os vários interesses e grupos sociais e na contenção do considerado perigoso crescimento do operariado urbano; por outro lado, na limitação das crises resultantes do excesso de produção e o consequente desemprego e agitação social que tinham marcado os tempos da 1§ República.
Porém, não é também de excluir que esta política de condicionamento da indústria cabe perfeitamente no caráter ruralista, anti-urbano e anti-industrial, de Salazar e dos ideólogos do Estado Novo para quem este setor da economia não era prioritário.
III. Consequências
E assim, a política de condicionamento industrial constituir-se-ia como um forte constrangimento à modernização do país e à consequente perpetuação de processos tecnológicos e baixos níveis de produtividade que caraterizaram o Estado Novo.
Outra consequência da limitação da concorrência foi o aparecimento de grandes empresas monopolistas, que o regime acabaria por proteger, já que a burguesia empresarial a eles associada tornar-se-ia o grande suporte social do regime.
d)    As grandes obras públicas
A implementação de amplos programas de obras públicas foi também em Portugal, tal como na Itália e na Alemanha, a manifestação mais visível do desenvolvimento do país. Pretendia-se também dar uma imagem nacional e internacional de modernização de Portugal e, ao mesmo tempo, resolver o problema do desemprego.
Em consequência, melhorou-se a rede de estradas, a rede ferroviária, os portos marítimos, a rede telefónica e telegráfica nacional; eletrificação do interior do país, edificaram-se grandes complexos desportivos, complexos hidroelétricos, edifícios de serviço público; deu-se particular atenção aos monumentos históricos.
São imagem do fomento construtivo do Estado Novo os primeiros quilómetros de autoestrada entre Lisboa e Vila Franca de Xira, a Ponte Salazar (agora Ponte 25 de Abril), a ligar Lisboa a Almada, e a Ponte da Arrábida, a ligar o Porto à margem sul do Douro, os grandes sistemas de barragens para aproveitamento hidroelétrico, o Estádio Nacional no vale do Jamor, estabelecimentos prisionais, tribunais, edifícios escolares, hospitais, quartéis militares, bairros operários, estaleiros navais, por exemplo.
As obras públicas, independentemente das circunstâncias em que foram realizadas, acabaram por ser o grande legado do Estado Novo.
e)    A política colonial - Portugal, um país pequeno na Europa, mas grande no Mundo
As colónias desempenharam uma dupla função no Estado Novo. Foram um elemento fundamental na política de nacionalismo económico e um meio de fomento do orgulho nacionalista.
No primeiro caso, porque realizavam a tradicional vocação colonial de mercado para o escoamento de produtos agrícolas e industriais metropolitanos e de abastecimento de matérias-primas a baixo custo.
No segundo caso, porque constituíam um dos principais temas da propaganda nacionalista, ao integrar os espaços ultramarinos na missão histórica civilizadora de Portugal e no espaço geopolítico nacional.
A vocação colonial do Estado Novo motivou, logo em 1930, a publicação do Ato Colonial, onde eram clarificadas as relações de dependência das colónias e se limitava a intervenção que nelas podiam ter as potências estrangeiras. Punha-se fim, de forma definitiva, a experiências de descentralização administrativa e de abertura ao capital estrangeiro, praticadas durante a 1§ República.
Para a consecução do segundo objetivo, o regime levou a cabo diversas campanhas tendentes a propagandear, interna e externamente, a mística imperial, entre as quais se destacou a Exposição do Mundo Português, em 1940. Afinal, nenhum outro país fascista reunia tantas condições para afirmar a sua vocação imperialista.

4.   O PROJETO CULTURAL DO REGIME - A "POLÍTICA DO ESPÍRITO"
a)     Caracterização
O projeto cultural do Estado Novo também foi submetido aos imperativos políticos, à semelhança do que acontecia nos regimes totalitários do resto da Europa. Quer dizer que, também em Portugal, a liberdade criativa, que caracterizara os primeiros anos do século XX, deu lugar a uma criação artística e literária fortemente condicionada pelos interesses do regime.
Ora, os interesses do Estado Novo eram, por um lado, evitar os excessos intelectuais que pusessem em causa a coesão nacional e, por outro, dinamizar uma produção cultural que propagandeasse a grandeza nacional.
b)    Meios
Para controlar a liberdade criativa, como já vimos, foi instituída uma severa ação de censura sobre toda a atividade cultural, em especial sobre as produções de artistas, na sua grande maioria, não identificados com a política salazarista. Os autores portugueses eram submetidos a uma autêntica ditadura intelectual.
Porém as preocupações com o controlo da produção cultural levaram os ideólogos do regime a conceber a chamada "política do espírito" Tratava-se de um projeto totalizante, envolvido numa ação de intensa propaganda, que visava inculcar na mente de todos os portugueses o ideário do Estado Novo.
Para pôr em prática esta política de incentivo propagandista do regime e de padronização da cultura e das artes, foi criado, logo em 1933, o Secretariado da Propaganda Nacional, instituição paralela às criadas por Mussolini, na Itália, e Hitler na Alemanha.
Falar no Secretariado da Propaganda Nacional é falar em António Ferro, chamado para a sua direção após a publicação do seu livro Salazar, o Homem e a Obra, cargo que exerceu até 1949. A António Ferro se deveu, por conseguinte, a formulação doutrinária da política do espírito.
 
António Ferro foi uma das mais controversas figuras da nossa história mais recente. Com apenas 19 anos, foi convidado por Fernando Pessoa para editar a revista Orpheu. Significa que o diretor de uma instituição castradora da liberdade criativa tinha mantido relações de amizade com os grandes vultos do modernismo português. Entretanto, era um fervoroso simpatizante do fascismo, fascinado mesmo por Mussolini e pelos regimes autoritários da época. Mas as contradições da sua personalidade são ainda evidentes ao pretender afirmar Portugal internacionalmente através de um programa de desenvolvimento das artes, da literatura e das ciências submetido a um ideário retrógrado - o ideário do Estado Novo - e afastado do verdadeiro projeto de vanguarda - as ideias em que assentava a criação modernista. Na verdade, António Ferro pretendia conciliar duas posições claramente opostas sobre o que deve ser um projeto cultural -o conservadorismo e a vanguarda.
c)     Realizações
O Secretariado da Propaganda Nacional viria a desenvolver um amplo programa de regeneração do espírito português, através da realização de múltiplas manifestações de carácter cultural, cuidadosamente vigiadas pela ação da censura.
Entre elas destacam-se as realizações mais emblemáticas do Estado Novo:
-   comemorações, salões de pintura, prémios literários, congressos científicos, exposições, inaugurações de obras públicas, todas envolvidas em alta pompa e circunstância para ostentação da grandeza do regime;
- com um carácter mais popular, a organização de festas, marchas, concursos e as grandes comédias cinematográficas, que atingiram, nesta altura, o seu apogeu.
Para a realização de todo este programa de enaltecimento da grandeza nacional, o Estado contava com o apoio de intelectuais e artistas cujas produções patrocinava. Na falta de uma cultura patrocinada pela sociedade civil, o Estado constituía-se como um grande mecenas.
De todas as realizações, uma merece uma atenção especial: a Exposição do Mundo Português, de 23 de junho a 2 de dezembro, de 1940, a propósito da celebração da fundação da nacionalidade (1140, ano em que D. Afonso Henriques se autoproclamou rex portucalensis) e da restauração da independência (1 de dezembro de 1640), manifestação imponente da grandeza do império português, para incentivo do orgulho nacional e para a Europa se deslumbrar, numa altura em que estava envolvida na 2ª Guerra Mundial.














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