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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Alunos HCArtes - Módulo 3- A Cultura do Mosteiro

1. O tempo
A partir do séc. IX até ao séc. XIII, inicia-se com a afirmação da Igreja como instituição fundamental para a organização económica e política do Ocidente. De facto com a cessação das vagas das invasões a partir do Ano Mil, assistiu-se a uma inversão do quadro depressivo que marcou os séculos posteriores à queda do Império Romano do Ocidente. O regresso à paz possibilitou o regresso aos campos e a renovação das técnicas e instrumentos agrícolas ao mesmo tempo que se produziam novos arroteamentos. O comércio reanimou e dinamizou a vida urbana, ao ritmo do crescimento demográfico, numa época em que as cidades medievais tornaram-se símbolos do renascimento europeu abrigando nas suas muralhas não só as grandes feiras como as Colegiadas e Universidades símbolos de um processo de renovação cultural que então se verificou no Ocidente. Foi neste âmbito de reabertura económica e renovação cultural que a Igreja reforçou o seu estilo pastoral, incentivando as peregrinações aos lugares santos ( Terra Santa, Compostela e Galiza) e organizou as cruzadas, importantes movimentos religiosos e militares geradores da reaproximação da Europa com o mundo oriental e com África.
2. O Espaço
A ordem de Cluny resultou da ingerência cada vez maior dos bispos e senhores locais na vida conventual ocasiona o nascimento, em 11 de Setembro de 910, da Ordem de Cluny. Esta ordem, que adopta a regra beneditina, introduz duas novidades de capital importância: a primeira, o facto de submeter exclusivamente à autoridade papal, com o que se evitam intromissões locais não desejadas; a segunda, a passagem da acção dos monges para a prática exclusiva da oração ficando o trabalho nas terras a cargo dos servos e dos colonos. A ordem de Cister, opõe-se ao luxo que caracterizou os cluniacenses, surgindo a partir de 1098 uma ordem que quer regressar à pureza da regra de São Bento: a de Cister. Os monges voltarão a trabalhar a trabalhar a terra e procura-se acima de tudo a austeridade. Os mosteiros cisterciences serão instalados em locais com abundância de água, para ser possível cultivar a terra. Fundada por São Roberto de Molesmes, foi no entanto São Bernardo Claraval ( que morreu em 1153) que deu o impulso decisivo à ordem, que em 1300 contava já com cerca de 700 abadias por toda a Europa.
3. Biografia
- Segundo Gregório Magno, seu único biógrafo (em diálogos, Livro I ), São Bento era filho de ricos proprietários rurais e estudou em Roma. Mas cedo abandonou esta cidade corrompida para se juntar a uma comunidade asceta Enfide. Três anos depois, fez-se anacoreta em Subiano. Aí um grupo de eremitas escolhe-o como seu chefe, mas logo o rejeitaram por causa da sua disciplina e rigor excessivo, uma vez que para alcançar a verdade em Deus, não se poupou a sacrifícios. Nos seus primeiros tempos em Cister sujeitou-se a violentas mortificações e auto flagelações que o levaram a contrair a doença que o martirizou toda a vida e acabou por o vitimar. São Bento voltou ao isolamento, mas, pouco depois, formou uma comunidade constituída por 12 pequenos mosteiros. Em 529, transferiu-se para Montecassino onde escreveu a sua Regra ( ou regulamento da Vida Comunitária). Esta está escrita em latim vulgar e teve como fontes a Sagrada escritura e os escritos de santos como Pacómio, Basílio, Leão Magno, Jerónimo Agostinho, Cesário Arles e, sobretudo, João Cassiano, cuja doutrina fomentou o monaquismo ocidental. A Regra de São Bento dominou o Ocidente até ao século XII e a acção civilizacional da sua congregação – a Ordem Beneditina ] – foi de tal modo importante que, em 1964, o Papa Paulo VI o declarou solenemente, patrono da Europa.
4.Local
Os mosteiros medievais estavam quase todos instalados em zonas isoladas, no alto das montanhas ou em vales e clareiras de florestas, embora alguns existissem no seio das cidades. Eram concebidos como pequenos mundos autónomos e auto-suficientes virados para o seu interior e fechados ao exterior por muralhas e portas. O mosteiro organizava-se com várias dependências de carácter funcional, que permitiam a sua auto-suficiência, tais como: refeitórios, cozinha, dispensa, adegas, estábulos, oficinas, etc. Se é certo que o mosteiro, constituía um centro de oração o seu papel na vida económica e cultural não pode ser ignorado. De facto, o mosteiro transformou-se num centro de dinamização da economia (difusores de técnicas e práticas agrícolas inovadoras, incentivadores do artesanato e do comércio, etc.), em avançados centros de produção cultural na teologia, nas letras e nas ciências e em escolas de nomeada. Exerceram assim um papel civilizacional.
5. O Acontecimento
A Coroação de Carlos Magno, ocorreu na noite de 25 de Dezembro de 800, numa época em que o rei franco constituía uma referência como militar e governante de um reino cristão cujo êxito ficou a dever-se à aliança com a Igreja: nas suas campanhas fez-se sempre acompanhar por missionários e pregadores cuja função era de converter e baptizar os povos conquistados, enquanto os seus soldados os submetiam ao poder político e militar. A sua coroação como Imperador do Ocidente foi de grande importância política para a Igreja, na medida em que quebrou o laço de dependência legal que havia entre o Papa e os reis ocidentais e o Império Bizantino, visto atribuir a Carlos Magno qualidade de legítimo herdeiro dos imperadores romanos; restabeleceu o Império Romano do Ocidente, transferindo a dignidade imperial para o rei dos Francos; unificou o Ocidente sob o mesmo poder político ( o dos Francos) e o mesmo poder espiritual – O do Cristianismo e dos papas de Roma.
6.Síntese nº1
Os Guardiães da Escrita : - A depressão cultural provocada pela queda do Império Romano do Ocidente, provocou um retorno ao analfabetismo e a uma cultura popular não escolarizada e não escrita, onde predominou a tradição oral. Todavia mantiveram-se alguns focos culturais activos, distantes uns dos outros nas regiões mediterrânicas e britânicas. Contudo os homens que animavam estes centros de produção cultural são uma minoria ínfima no conjunto da população. No total, umas centenas de pessoas, apenas seriam capazes de ler e escrever, e muito menor os que sabiam organizar e sintetizar ideias. Assim acentuou-se por todo o Ocidente uma notória disparidade cultural entre a cultura latina ( escrita em Latim), cada vez mais restrita ao âmbito religioso e a um escol muito pouco numeroso de intelectuais e a cultura das massas, medíocre, barbarizada, oral.
7. Síntese nº2
O poder da Escrita : - O papel de guardiães do saber escrito cabe igualmente aos monges pelo trabalho exercido nos scriptoria ( escritórios), conventuais, espécie de oficinas de escrita, onde pacientemente, alguns monges especializados (escribas e copistas) escreviam documentos e registos do mosteiro e se entregavam à tarefa de copiar, à mão, os livros religiosos e os grandes clássicos, muitas vezes ricamente ilustrados com iluminuras ou miniaturas. Esta acção foi extremamente valiosa numa época em que não havia outros processos de edição ou reprodução de livros, nem oficinas privadas que disso se encarregassem. Assim, foi o esforço destes copistas que trouxe até nós o conhecimento e o pensamento dos Antigos. A arte de escrever, restrita a uma elite, foi então extremamente aperfeiçoada. Devido às dificuldades de comunicação da época e ao isolamento dos mosteiros, desenvolveram-se caligrafias e alfabetos diferenciados. O domínio da arte da escrita e do saber engrandeceu o papel dos eclesiásticos na sociedade e conferiu-lhe durante muito tempo, pelo menos até ao advento da burguesia (Séculos XII-XIII), o monopólio dos cargos públicos e das chancelarias régias, valorizando-os aos olhos do monarca.
8. 1ºCaso Prático
O Canto GregorianoÉ um tipo de canto litúrgico usado no ritual cristão desde o século IV, após a liberalização do cristianismo. Data do pontificado e Sisto I (423-440) a notícia de mosteiros que possuíam por incumbência assegurar o acompanhamento cantado do serviço litúrgico. Contudo o adjectivo gregoriano só lhe foi atribuído após a reforma que, no final do século VI, o Papa Gregório I, ou Gregório Magno, implementou, reordenando as liturgias de missa e do ofício divino, dando-lhes a forma que sobreviveu, quase inalterável, até ao século XX (Concílio Vaticano II). Nessa reforma, S. Gregório unificou os vários cantos que acompanhavam os rituais, até aí chamados de cantos romanos ou romana cantilena, definindo o seu papel na liturgia, da qual reconhece fazerem “parte integrante e necessária”. Com efeito, numa época em que a voz do sacerdote não possuía qualquer auxiliar, o canto desempenhou funções ministeriais: exprimia a oração de forma mais suave, favorecia o carácter comunitário da mesma e conferia amplitude e solenidade à palavra das escrituras e aos ritos. Derivado dos cantos da sinagoga judaica, e provavelmente também influenciado pelas músicas grega e romana, o canto gregoriano é uma música monódica ( que possui uma melodia) , de ritmo livre, destinada a acompanhar os textos latinos retirados da Bíblia, enquadrados no sistema diatónico.

9. 2ºCaso Prático
- Igreja de São Pedro de Rates – Edificada sobre alicerces graníticos de antigas construções encontra-se actualmente em Rates, a Igreja de S. Pedro, cujo nome, instituição e edifício estão envoltos numa longa e complexa histórica. O seu nome advém, segundo a tradição, de um certo judeu, que no tempo do imperador Nero foi naquele local maltratado pelos soldados romanos, mas como ressuscitou foi convertido pelo Apóstolo S. Tiago e tornado mártir; tido como primeiro arcebispo de Braga, construíram -lhe um santuário paleocristão que, nos séculos VI e VII, se tornou um centro de peregrinação. Nos finais do séc. IX, aí já existia, conforme o prova a arqueologia, um mosteiro ( de frades bentos) com uma igreja de três naves. Seria nesta construção que se iniciaram algumas alterações por mando do conde D. Henrique em 1100, sendo a primeira construção da Congregação de Cluny em Portugal. Entre a primeira metade do séc. XII e a segunda metade do século XIII, o edifício da igreja foi sujeito a muitas obras comprovadas por algumas incongruências nas estruturas arquitectónicas (como naves laterais com larguras diferentes, tramos desiguais, pilares e contrafortes não alinhados e fachada principal não assimétrica) e, na decoração, nomeadamente dos portais, capitéis, frisos e modilhões ( cujos relevos representam elementos baseados na tradição local – decoração linear e quase grafítica – e nas influências dos modelos da e do românica coimbrão – com animais, como leões, aves de asas abertas, cabeças de boi e folhas estilizadas, estas influências coimbrãs, que têm marcas francesas. A conclusão da construção da igreja foi precipitada certamente por dificuldades económicas ( a prova é a cobertura das naves ter sido só em madeira quando elas estavam preparadas para aguentar também abóbadas de pedra).

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