Jean de
Viguerie
A
revolução foi uma ruptura em todos os domínios.
Primeiramente, no domínio político: depois de mil anos de estabilidade na
França, começou o reinado da instabilidade, isto é, a sucessão de regimes, de
repúblicas, de governos, de partidos. Desde 1789, a França anda à busca de uma
legitimidade. O assassinato do rei Luiz XVI, crime premeditado, crime deliberado
bem antes do processo que lhe foi intentado, como mostra um recente livro de
Madame Coursac, revestiu-se de uma significação profunda: foi um parricídio.
Ruptura no domínio das instituições e das leis: mil anos de leis, de costumes,
de instituições, de privilégios, de liberdades, abolidos de repente, sem
motivos.
Ruptura e degradação de uma sociedade: de um dia para o outro acabaram-se as
ordens, as corporações, as confrarias, as companhias, e o indivíduo se viu
sozinho diante do Estado.
E o
que dizer de todas as conseqüências que se seguiram?
O
atraso económico em primeiro lugar. No século XVIII a França multiplicara por
quatro seu comércio exterior. Vira uma notável expansão de sua costa atlântica.
O crescimento só retornará no Império, mas não passará de uma recuperação das
perdas sofridas durante a Revolução.
Em
seguida, o atraso demográfico. Desde 1801, na França, a curva de jovens é
constantemente decrescente. No século XVIII, sua população crescia no mesmo
ritmo que a da Inglaterra. A partir de 1800 nota-se o crescimento da população
britânica, a estagnação da população francesa. Em 1901, a densidade britânica é
de 163 habitantes por km2, a francesa de 73.
Atraso enfim no ensino. De um dia para o outro, dissolveu-se uma rede de escolas
que era a mais completa e a mais bela de toda a Europa (vinte e uma
universidades, mais de duzentos colégios, milhares de escolas primárias) e não a
substituíram por nada ou quase nada.
Depois da Revolução, foram necessários 30 anos para reconstruírem uma rede
escolar tão densa quanto a do "Ancient Régime". Em 1790, a supressão das ordens
religiosas teve, no domínio da vida espiritual, conseqüências desastrosas
incalculáveis; milhares de mosteiros com seus arquivos, suas bibliotecas, eram
centros de vida intelectual erudita. A Revolução expulsou os monges, os
edifícios foram deixados ao abandono, grande quantidade de livros e manuscritos
foram perdidos.
Mas
tudo isso não é nada ao lado da apostasia. A Constituinte provocou o cisma. A
Assembléia e a Convenção perseguiram a religião católica e descristianizaram
sistematicamente a França. O resultado é fácil de ver: em 1801, no momento da
Concordata, a proporção de franceses católicos praticantes caiu de 99% para 50%.
A metade da nação francesa deu as costas para Deus. Um século mais tarde, depois
de prodígios de apostolado e de santidade, o inventário era o mesmo: em 1914,
50% dos franceses fazem a Páscoa. O que quer dizer que a metade perdida entre
1789 e 1801, a Igreja nunca mais recuperou.
("Caractères
de l´Histoire de la France" -- Itineraires no. 271. Tradução: Permanência).
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